quinta-feira, outubro 27, 2005

Uma Rosa


O encantamento. Com uma flor que dá cor.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Fruto

 

Marmelo. Gosto de marmelo desde pequeno. Cru. Ácido. Derretido fica doce. Marmelada.

 


Amor Sincero

 

Estava num circo. A tentar ler para não ouvir os gritos dos gaiatos.

 

- Fábio, gostas de louras ou morenas?

- Sejam feias ou bonitas, gosto daquela que o coração mandar.

 

Encantamento das gaiatas.

 

- Então quer dizer que gostas de mim?

 

Sem um pingo de hesitação.

 

- Isso eu não sei. Eu gosto mesmo é das tuas pernas, não são peludas como as da Márcia!

 

 


terça-feira, outubro 25, 2005

Senhores do Bairro

«O senhor Henri disse:
... é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.
... mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior.
... muito cedo tomei as opções essenciais que há a tomar na vida — disse o senhor Henri.
... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto.
... mais um copo, caro comendador. E sem um único pingo de realidade, por favor.»

in “O Senhor Henri”, Gonçalo M. Tavares, Caminho

 


segunda-feira, outubro 24, 2005

Segredo de Censura



- Posso contar-te um segredo? Como não posso falar...

Conta, conta.

- Passei à porta da igreja, à porta do hotel, percorri o largo. Não tinha condições para não te ouvir.

Hoje é dia de escrever sobre segredos.
Conta-me. Para onde olhaste, para onde sorriste. Conta-me. Conta-me o teu arrepio da minha presença. Conta-me. Conta-me o que viveste, o que sonhaste lembrando.

- Procurar-te a cada esquina, a cada contorno de sombra. Tentar encontrar-te em cada fachada de luz. Retomar os movimentos sentidos em cada presença de emoções. Foi isso. E só. Senti-me solitariamente acompanhada pela perspectiva de uma existência possível. A nossa.

Sorrias? Com olhar solitário, sofrido? Ou beijo acompanhado, sentido? Sorrias?

- O olhar sofredor não passava despercebido ao mais desatento transeunte. Sentia-me observada.

Vento Imortal

 

Ainda nem sabias quem eras, quem olhavas e quem sorrias. Nasceste no império que irá ser desconhecido.

Desbravaste o cheiro da terra vermelha, correste à frente da chuva que o céu chorava, namoraste as cores que as tuas mãos tocavam.

Quando sorrias de inocência, eras apunhalado pela morte que não te conhece. Ela não te leva, só apoquenta. Só graceja ao teu braço de ferro corajoso, à tua eloquência de chama vocal.

Combates de força moral travada, sem ardor com grito de dor.

Resistes ao esquecimento da memória que te fugiu. Que lembrarei, ao pisar a terra cor de fogo e sossegar o vento.

 

O teu vento. Imortal.

 


sexta-feira, outubro 21, 2005

Assobio de Peixe

 

A carruagem anda aos magotes, aos soluços pelo meio da chuva. Não há sítio para sentar. Lotado. Superlotado.

Com os olhos de papeira, vou lendo algumas frases do “Estrangeiro” para começar o fim da semana. Chego ao apeadeiro de saída e a lota da carruagem despeja o cardume para as escadas. Dou prioridade de ultrapassagem à pressa e vou andando, mais caminhando, no meio daquela corrente.

Quando olho para trás, vejo dois peixes. Um graúdo e outro miúdo. Vejo a mãe a sacudir a petinga que dormia em pé. Parecia que estava a sacudir um tapete cheio de pó.

Acorda, acorda, diz ela. Aos gritos. Por favor, não posso levar-te ao colo. És muito pesado. És chumbo.

A petinga não ouvia. Sonhava concerteza, com o dedo na boca a fazer de chupeta.

A mãe não sabia o que havia de fazer. Estava quase a entrar em pânico. Olhava para todo o lado à procura de ajuda.

Chego ao pé dos olhos dela e digo-lhe para ter calma. Digo-lhe para assobiar. Ao ouvido. Ele precisa de ouvir a música que lhe cantava quando ainda era girino.

Como se ele estivesse no mar.

 


quarta-feira, outubro 19, 2005

Saudade



Este quadro de Magritte está em Itália, na casa da Peggy. É quase do tamanho da minha sombra na parede.
Os dias estão assim. Confundem-se com a noite e fazem amor com ela.

Tenho saudades desta sala.
Tenho saudades do jardim.
Tenho saudades do barulho da chuva a cair na praça.
Tenho saudades de me perder.
Tenho saudades de viajar. De conhecer. De conversar o meu português maldito.
Tenho saudades dos cheiros, das cores, de olhares que se saúdam.
Tenho saudades. De ter saudade.

Fotogramas

Man Ray _ 1922

Já tive duas sessões no laboratório de fotografia. Como são fantásticas as possibilidades que este género de fotografia nos pode proporcionar. Tive vontade de experimentar, experimentar e não mais parar. Mas as minhas criações nunca chegarão aos limites do grande Man Ray. Que grande senhor da Fotografia, as suas ideias... Os contrastes e o movimento que criou são simplesmente fenomenais. Perdi-me ao folhear um livro sobre a sua obra.


Giacometti studies


As Cores do Mundo

 

No cubículo subterrâneo do armazém de gente, há vida a respirar nos poros da terra perfurada.

Barulhos metálicos roncam despercebidos na apatia matinal dos olhares passageiros.

É estranho ver a claustrofobia da cor. Da nossa cor no mesmo mundo dentro do mundo.

Fechei os olhos e imaginei todas as cores a serem devolvidas aos nossos corpos, em forma de metamorfose.

E cada toque, cada riso, cada cabelo eriçado eram inspiração de música valseada, suada e transpirada.

 

Encostei-me na porta de saída. À espera das minhas cores desejadas.


terça-feira, outubro 18, 2005

Briga de Luz

 

- Não acordes!! Não vês que estou a acabar de fazer o sonho?

- Qual sonho? Não vejo nada! Tu e os teus disparates lunares. Nunca estás bem!

- Nunca estou bem? Como assim?

- Ora estás vazia, ora estás cheia. Ora estás amuada, ora estás camuflada. Porque é que estás sempre a mudar?

- Há tanto tempo que por aqui andas e ainda não percebeste a nossa diferença de luz.

- Diferença de luz? Até um cego pode ver. Eu sou maior do que tu. Até consigo raptar-te.

- Não, meu amigo. Enquanto tu iluminas o sonho da vida presente, eu ilumino o sonho das almas dessa vida, que nunca irás queimar com a tua luz.

 


segunda-feira, outubro 17, 2005

Labirinto


Espreito. Paciente a observar a trama. As cores mudam com o meu olhar à procura da luz da entrada serpenteada. Cada esquina angular, cada sombra viscosa.
Será que encontro?

sexta-feira, outubro 14, 2005

Ser Queiros(z)iana

 

Esta conversa começou depois de abrir a porta do elevador.

 

“Olá !!! Como está? Há muito tempo, hein... ?!”

 

Azia.

 

“É verdade, é verdade. Está tudo bem?”

“Claro! Então o que é que anda a ler?”

 

Bem que tentei esconder. Nada feito. Tinha de ser breve.

 

“Ah... Estou a ler o ‘Diário de um Killer Sentimental’.”

“Ai! Que título nada sugestivo! Eu estou a ler um clássico.”

“Ai sim? Português?”

“Um filho da escola do Eça. É o queirosiano que eu mais gosto. O Miguel Sousa Tavares. Gosto tanto dele que nem imagina.”

 

Suspiro.

 

“Não imagino, não. Nem quero imaginar. Bem... fico por aqui. Até logo!”

“Até logo!”

 

Começo a pensar se sou filho de alguma escola. Lembrei-me logo das reguadas da professora Nicha.

 

 

 


Chaminés


Este céu foi pintado no dia 4 de Abril de 2004. Em Lisboa, mesmo no meio da Avenida da Liberdade. Horas antes do concerto de Zero 7.

Banda Sonora



Exercise 1. A minha viagem de comboio.

A Virtude da Paciência



Respirar fundo. Devagar.

Chá de cor, Bolas em Flor


Os pássaros. Voam, voam, colhendo sementes de terras longínquas. Nunca se sabe o que vai nascer, o que vai crescer. Pode dar fruto, pode dar flor.
Queria ter uma tatuagem. Em vez de plantar na terra, plantava na palma da minha mão.
E quando fosse ao mar, a flor desabrochava, como uma infusão manchada de cor.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Gerações

 

Nos dias passados de queima, almocei algumas vezes por baixo de uma vinha. Sítio recatado no meio da azáfama urbana, onde relaxava alguns instantes preenchidos pela leitura.

Estava refastelado mesmo no canto do sopé da vinha, a ler contos dispersos, quando sou interrompido por uma voz baixa. Era o meu vizinho do lado.

 

“Amigo, cê empresta um cigarro?”

 

O meu vizinho do lado era uma personagem castiça. Chapéu panamá, cabelos de seda brancos, que continuavam pela cara farfalhuda de pêlos, também brancos.

Percebi que era um velho. Um velho estrangeiro de passagem. E como estava de passagem, meteu conversa com a minha leitura.

 

“Eu não empresto cigarros, ofereço.”

 

Passo o cigarro e fico à espera de resposta.

 

“Brigada, amigo. É a velha desculpa de deixar os cigarros em casa. Tou vendo que cê está a ler Hemingway. Qual é o livro?”

“Estou a ler um livro de contos. As Neves de Kilimanjaro. Gosto da escrita dele, pelo facto de ser muito actual. Como se o conto tivesse sido escrito ontem.”

“Ahhh... Hemingway. Gosto muito do livro dele, que é... aquele do pescador que luta com os tubarões...O Lobo e o Mar...”

 

Corrijo, com um sorriso.

 

“O Velho e o Mar.”

“Isso, isso. Velho como eu mas não tão gordo. Eu gosto muito de comer, sabe? Aqui em Portugal, a comida é um manjar dos deuses. O bacalhau... e as sardinhas?”

“Sim, as sardinhas. E os pimentos, bem regados com azeite.”

 

De repente, aproxima-se uma mulher. Era a companheira.

 

“Maria, tô falando aqui com... como cê chama mesmo?”

“Damião.”

“Prazer. Bernardo. Aprêsento a minha namorada, Maria”

 

Muito tímida. Mal ouvi o agradecimento.

 

“Nós tamos aqui em Portugal há pouco tempo. Adoro esta cidade. Lisboa. Eu vivi muitos anos no Alentejo, no Redondo, cê conhece?”

“Só de passagem. Mas conheço os vinhos.”

“Tá vendo, Maria? Nós devíamos voltar pra lá. Passámos lá bons anos. Depois fomos para o Brasil, para o Rio. Cê conhece o Rio?”

“Não. Conheço pouca coisa fora de Portugal. Mas conheço bem o meu país! É muito rico, tem história.”

“É verdade. Olha, cê não quer ver o meu trabalho? Eu tô expondo umas obras ali na Mãe D’ Água. Vou estar aqui um mês. Se quiser, diga que conhece o Bernardo e não paga.”

“Está bem. Vou passar por lá para o cumprimentar.”

“Isso. Bem, nós temos de ir. Damião, prazer em conhecer. Gostei muito deste bocado. E tenho de comprar esse livro do Hemingway.”

 

Já levantado, dá o último gole na zurrapa de vinho tinto do dia. Faz um aceno, e eu respondo com a palma da mão.

 

Um dia depois, passei pela Mãe D’ Água. Estive mesmo para entrar, mas voltei para trás. Não me queria esquecer daquela voz. Genuína. E não queria repetir a história.

 


Gestos

O meu corpo treme. Não há vento, mas as bandeiras acompanham o leito do rio, como aplausos da chegada ao mar.

As sombras estão ainda a dormir. E as chuvas devem ter regressado esta noite, para o céu estrelado, para esconder a lua com olhar de censura.

Só resta uma nuvem tresmalhada, que se arrasta à deriva, sem saber onde vive o seu poisar de descanso.

A minha mão já não treme. Está tranquila nos gestos da escrita.

 

Talvez hoje não seja perseguida. Talvez hoje seja abraçada.


terça-feira, outubro 11, 2005

Lembrança

 

Dunas atrás da casa

gafanhotos cor de madeira

cardos cor de areia

ao fim da tarde,

barcos na água rósea

onde a cidade, em frente à casa, cai

De madeira caiada

a casa está sobre a areia,

que escurece quando

a maré devagar desce na praia

 

in “Crateras”, Gastão Cruz


segunda-feira, outubro 10, 2005

O Silêncio do Grito


São dois. Corrijo. São duas. Duas vozes que não se ouvem.


Onde estás?

Pensamos tudo. O pior, o impossível, o que podia ter acontecido, suposições, hipóteses absurdas.

Tentamos rir para amenizar a angústia do desconhecimento. A angústia do nada.

O meu amigo está longe, do outro lado do mundo onde a Terra tremeu. Será que ele sabe?

 

O meu pavor desapareceu de repente como apareceu. Já deu notícias. E está bem.

Quando chegares, vou-te fazer rir. Rir até não poder mais.

 

Um abraço. De gargalhada.


terça-feira, outubro 04, 2005

Colleen´s Playground



Sounds. Colleen plays "The Golden Morning Breaks".

segunda-feira, outubro 03, 2005

Good Friday

“I once fell in love with you

just because the sky turned from gray

into blue

it was good Friday

the streets were open and empty

no more passion play

on st. nicholas avenue

I believe in st. Nicholas

it’s a different type of santa clause”

 

Esta melodia é um arrepio doce. Percorre todos os meus sentidos.

A voz dedilhada que aparece solta nas cordas é... Ainda nao consegui encontrar a palavra certa para adjectivar esta beleza.

 

 

 

 


Goodbye Lenin soundtrack


Descobri melodias fantásticas pelo célebre Yann Tiersen. Boa música, e o filme? Anseio por vê-lo!

domingo, outubro 02, 2005

O sublime e o grotesco












1 de Outubro 2005 - Obras de Luís Qual

Há os que enfrentam tudo e todos
há os que esperam solitariamente
e há os que se unem...mas todos existem num só corpo.

Centro Cultural do Cartaxo

by eternallusa
Um Centro que me deixou encantada! As cores, a luz, as sombras! Um caso para dizer, bela arquitectura!


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