segunda-feira, julho 24, 2006

Sotaque Inglês


Estou sentado num banco com traves de madeira, dispostas simetricamente na horizontal. Bebo uma cerveja mole do calor, ao sabor meio pavio do dia que se está a pôr. Ao meu lado está outro banco. E duas pessoas sentadas. Não as conheço, nem tenho intenção alguma de as conhecer. São sombras anónimas, silenciosas ao meu olhar.
Vejo o rio lá ao fundo, depois dos telhados disformes e recortados, parecendo um puzzle impossível e longínquo de ser acabado. É a primeira vez que estou aqui. Já tinha imaginado este sítio quando estivesse a tocar os sinos da Basílica, mas nunca o tinha encontrado. Acho que este sítio é especial, pois nunca tinha sentido uma paz de espírito tão forte ao estar aqui sentado neste banco, ao lado doutro banco.
Quando dou o último golo da cerveja já morta, aproxima-se da sombra uma sombra do outro banco, sem que eu desse pela sua presença. Não fiquei surpreendido com o facto, pois não havia qualquer vento para pressentimentos. Falou comigo em inglês num sotaque meio desajeitado que eu compreendi perfeitamente. Não é inglês, disso tenho eu a certeza. Percebi que era um casal, descalços na pedra a falarem coisas estranhas, apaixonados pelo rio.
Apesar de eu falar português, não percebo o que digo. As coisas que saem da minha boca nem o vento as quer levar para outros mundos. Não existe adjectivo para as decifrar, pois são absolutamente incompreensíveis. Não têm qualquer significado em qualquer dicionário de mar. São invisíveis, simplesmente invisíveis.


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invisíveis
 
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