terça-feira, julho 11, 2006
Mão que Chora
Escreve uma carta.
Pega numa folha de papel. Aquela que apanhaste com as tuas mãos frias ao cair do abraço partido.
"Sinto-me só. Sei que não é assim que se começa a escrever uma carta. Escrevo a carta neste dia e continuo a sentir-me só."
Dobra-a em duas partes. Devagar. Faz vinco sem rasgar com os nós dos joelhos.
"Nunca me ensinaste a escrever. Tenho frio. Quando olho para a luz, ela não me aquece. Ela não gosta de mim."
Senta-te no banco mais perto do céu. Encosta a folha no colo das tuas pernas, a fazer gruta escondida para o vento não a levar para o mar.
"Gosto de correr pelos pinheiros. Eles estão sempre juntos. Mesmo quando estão em cinzas, nascem de novo. Sempre juntos."
Escreve com a mão que choras. Deixa-a a tremer, agarrar o medo, o escuro, o fio que corta a alma.
"Não quero escrever mais. Adeus. Promete que não te esqueces. Promete."
Larga a caneta na terra que pisaste. Enterra-a.
Espera, não vás. Espera pelo pássaro.
Não tenhas medo, ele não te leva. Não tenhas medo.
Estás aqui.
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"Escreve uma carta.
Pega numa folha de papel. Aquela que apanhaste com as tuas mãos frias ao cair do abraço partido."
Fabuloso.
Parabéns!
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Pega numa folha de papel. Aquela que apanhaste com as tuas mãos frias ao cair do abraço partido."
Fabuloso.
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