quarta-feira, maio 10, 2006

Passadeira


Quando olhei para cima, vi-a. Era ela. É ela. Não olhei para os lados, para ver se vinham carros. Olhei para ela. Para os olhos dela. Os meus pés pisavam os intervalos pretos, sujos. Os pés dela pisavam as linhas brancas, delicadas, silenciosas. Não queria pisar o mesmo que ela pisava. Senti que era uma tortura. Para mim e para ela. Mas não deixava de olhar para ela, para os olhos dela. Cruzámo-nos, em compassos diferentes em destinos impossíveis. Ela queria fugir. Eu queria falar. Ela disse olá, sem forças para esconder o olhar. Eu disse olá, como uma faca que se espeta nas costas.
Eu já estava do outro lado da passadeira. Não sei se ela chegou ao outro lado, não olhei para trás.


Comments:
Aconteceu-me uma vez no metro... Cruzámo-nos quando eu saía e ela entrava na carruagem.
Quando me dei conta de que era ela virei-me instintivamente para trás. Ela também se tinha virado. Ficámos assim, a olhar fixamente um para o outro. O comboio fechou as portas e começou a andar. Foi aí que percebi que a tinha perdido para sempre... Nem cheguei a saber o seu nome.
 
But never caught her name...

Faz-me lembrar uma música de outros tempos...
 
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