segunda-feira, maio 29, 2006

Materna Doçura


O professor vê um miúdo à beira rio, sozinho, sentado com as botas a tocar na água calma do rio.
- Como é que te chamas?
- Chamo-me Sacha.
- Sacha??? Não é um nome vulgar.
- Manias da minha mãe. É que ela gosta de nomes estrangeiros.


"Até o meu nome é desconhecido. Para ela sou um estrangeiro. E para o filho da puta do Guimarães, sou um vadio. Mas prefiro ser vadio do que filho da puta."

O miúdo tem mesmo cara de miúdo, olhos de miúdo, mãos de miúdo. O miúdo olha para cima, para o saber do professor.

"Tens respostas para mim? Porquê é que eu sinto o que sinto? Não compreendo! Responde!"
O professor olha para baixo, para a tristeza do miúdo. Senta-se ao lado dele e o miúdo levanta-se.
- Queres uma maçã?
- Está envenenada?
- Se estivesse envenenada, nunca te dizia que estava envenenada.

E o miúdo senta-se ao lado dele. Mas só depois de ver uma trinca bem dada pelos dentes do professor.


"Materna Doçura", Teatro Virgínia de Torres Novas


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