quarta-feira, maio 03, 2006

A Casa do Vento que Soa

Eugénia. Cara de rugas, velhas, cansadas, pesadas. Deambula pela casa das quatro janelas, com os dedos finos a fazerem festas no andar das pernas. Passo com passo-a-passo, sabe que esta é a sua hora. A hora de ouvir o vento a levar-lhe a alma, a hora de fechar as janelas que restam da sua vida.
Fecha a janela do sol sem olhar para a luz que lhe queimou o coração, fraco, moribundo.
Fecha a janela do mar, enxugando as lágrimas mortiças de mágoa sofrida.
Fecha a janela das flores, da dança do primeiro amor, do primeiro cheiro.
Eugénia sorri. Nua, no parapeito da janela do vento. Encosta o ouvido na janela fechada, devagar, muito devagar.
Ouve o vento a chamar, a gritar por ela.
Eugénia sorri. Nua, no parapeito da janela do vento. Brinca com os dedos na janela fechada, a lembrar-se da criança que já foi, trazida pelo vento.
Eugénia sorri. Abre a janela. Abraça-se. Abraça. O vento. Abraça-se. Abraça.

Comments:
Estava longe, no UM do sofá. Cheguei ontem, voltei a esgravatar a relva e fui avisado pela Pury que um Quixote que sonha em Marrakech nos tinha oferecido algo.
É escusado esgravatar a relva quando nos caem no sofá prendas assim.

Obrigado, Quixote.
 
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