segunda-feira, abril 10, 2006

A Voz de Mariana


- Mariana! Mariana! O que é que eu já lhe disse?! Ainda é muito cedo para o almoço!
- Mas...
- MARIANA! É PRECISO REPETIR? AINDA É MUITO CEDO!!!

A voz de Mariana queria falar, queria pedir, gritar, suplicar por ajuda. Não queria caridade. Queria uma palavra de afecto, um abraço, um sorriso no olhar.
Mas Mariana não deixava. Mariana tinha de obedecer ao homem bruto do restaurante, à voz bruta de vilão.
Mariana tinha de comer. Precisava de comer. Todos os dias.

A voz de Mariana queria chegar mais cedo para conversar com amigos. Mas Mariana já não tinha amigos. Mariana já não tinha ninguém. Mariana estava sozinha. E foi embora. Sozinha. Sozinha, pelo silêncio do jardim até ao número 4, que era o número da porta da sua casa abandonada no largo do jardim.

Era muito cedo. Mariana tinha chegado muito cedo. Mas a voz de Mariana sabia esperar. Sabia esperar a fome.
A voz de Mariana tinha esperança. Tinha esperança no homem bruto, o seu único amigo. Todos os dias.



Comments:
lindo...
 
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