terça-feira, abril 04, 2006

Tempo de Pêndulo



Quando não estou a escrever, perco tempo em muitas coisas. Umas delas é pensar. Pensar como o tempo pensa.
Apercebi-me disso quando olhei para um relógio de pêndulo, pendurado na parede da tasca do Papagaio, igualzinho ao relógio de pêndulo que também está pendurado noutra parede, desta vez na casa da minha avó.
Quando fazia as minhas sestas de gaiato obrigado, ouvia o trabalhar dos ferros do relógio. Era uma máquina viva: tlim, tlac, tchum, rumpf, tlim, tlac, tchum, rumpf.
Quando dava as horas parecia que ia rebentar estardalhaço. Só não tinha o cu-cu, como já vi noutras casas. Mas ainda lá está, na casa da minha avó, a passar o tempo.

O tempo, seja ele onde estiver, onde nasceu e onde morrerá, é o tempo. O tempo que pensamos.

Pensamos. O que eu vejo agora neste amontoado de gente à minha volta, é o tempo a passar, corrido e conversado, mas ninguém presta atenção ao tempo a pensar.
Percebi outra coisa. Devo emendar-me quando falo sobre o tempo. Não posso falar no tempo que pensamos no plural, mas no tempo que eu penso no singular.

Acabo a prosa em tom de pergunta: pensamos no tempo quando estamos sozinhos?




Comments:
Sim. Principalmente quando estamos sozinhos, os minutos ficam pesados. Quando bem acompanhados voam como penas, pelas ruas da cidade dos mil ventos, dentro da tasca KateKero ou num passeio à beira rio.
 
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

(Sophia de Mello Breyner)


Se por um lado o tempo pesa, por outro, o vácuo enlouquece-nos.
 
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