terça-feira, abril 11, 2006

Entre Pedras


- Dizem que a pedra é um elemento inerte.
- Por ser pedra?
- Não, por ser fria. Um ser frio, desprovido de vida.
- Eu acho que a pedra é. Se tocarmos na pedra com as nossas mãos, ela é fria ao nosso toque tímido...
- Tímido? Porque é que é tímido? Um toque é um toque, seja ele qual for.
- Tímido. Um toque é sempre tímido. É como o desejo. Nunca desejaste ser tocada?
- Convenceste-me. E...
- ...Ela é fria ao nosso toque tímido. Mas se a abraçarmos, a pedra é quente. Então, como é que a pedra pode ser inerte se também é quente?
- A pedra não tem vida. Quando entrelaças os meus pés nos pés da minha amada, a pedra é. A pedra é fria.
- Como pode ser fria no gelo mais gélido que existe. Mas quando largas uma lágrima na pedra, ela derrete.
- A pedra derreter?! Que disparate!
- Sim, que grande disparate. Ela derrete. Ela, a amada. A pedra é. Como a vida das nossas sombras.


Comments:
A vida das nossas sombras é fria, é tímida e quente mas se não a abraçarmos pode ser fria como o gelo mais gélido que existe.
 
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
 
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus
 
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