segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Segredos da Escuridão


O seu nome é Alberta e tem 63 anos de idade. Tem 63 anos de vida passada no escuro da escuridão. As paredes da sua casa são escuras, as ruas velhas da cidade amaldiçoada são escuras, as sombras são escuras, as pessoas são escuras, os olhares são escuros, a luz é escura.

O seu nome é Alberta e tem 63 anos de idade. Faz comboios de madeira e enrola fios de nylon vermelho para fazer escovas para lavar carpetes. É este o seu ofício no escuro.

- Sinto-me contente, sim, sinto-me contente. Que é que você pensa? Acha que viver na escuridão é bom? Uma coisa é não ver o que tocamos. Com isso posso eu bem. Aprendemos a ver de outra forma, de outra maneira.
E pronto, somos humanos, não é? E se somos humanos, adaptamos tudo à nossa volta, não é? Outra coisa é viver na escuridão. Viver na escuridão. Ninguém fala na escuridão. Ou acha que as paredes falam? As paredes só guardam segredos que ninguém vê. E acha que alguém os descobre?
Claro que não, esta gente quer tudo o que vê à frente escarrapachada. Não gosta de descobrir, de procurar. É que nem todos os segredos são maus, entende?

- Entendo, minha senhora, claro... a vida é assim...

- Você não entende nada, rapaz. Está aí com um microfone a gravar uma conversa e nem vê aquilo que eu lhe estou a dizer. Daqui a uns anitos, vai ver. Talvez até consiga descobrir o segredo.




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