sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O Sentir


- Nunca mais me tornas a ver! Nunca mais!
Lembro-me de bater com a porta com toda a minha força, pegar na bicicleta, pedalar meia dúzia de passos pela rua estreita e sentir uma picada na cabeça. E mais uma. E outra. E mais outra, cada vez mais fortes. Perco o equilíbrio e saio da bicicleta.
Lembro-me de sentar num degrau de pedra, olhar para baixo e agarrar a cabeça com as minhas mãos. A minha cabeça gritava para dentro de mim, gritos de pânico, gritos do abismo que estavam a tomar conta de mim. Por momentos, senti que ia morrer. E não me lembro de mais nada.

Lembro-me de acordar com o som familiar de duas vozes. Abro os olhos, bem devagar, e vejo que estou no sofá cama, deitado com uma roupa de fato de treino. Parecia que tinha acordado de um sono profundo, que tinha feito uma viagem a um mundo longínquo e que tinha regressado num segundo. E as vozes continuam aos segredos.

- Vês? Vês? Já viste como é que ele está?
- Chiu, não faças barulho, ele está a descansar a cabeça. Ele precisa de dormir. Ele precisa de dormir muito.
- Já sei a quem é que ele sai. É tal e qual como tu, quando eras mais novo. Sentes as coisas assim, desta maneira, parece que o mundo vai acabar hoje. E achas que vale a pena sentir? Para ficar neste estado?

Fecho os olhos. Não estava a perceber nada do que estavam a dizer. Mas agora percebo. Percebo que estavam a falar do sentir, do meu sentir. E como é bom sentir. Sentir. Sentir o sentir da vida.

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