quinta-feira, janeiro 19, 2006

Caixa de Fósforos


Acabei de passar por um fósforo. Preso pelos lábios secos, velhos da mulher de cabelos loiros de água oxigenada.
O fósforo. Para ela, é um palito. Tem a luz do amor, a luz da vida nos seus lábios. E para ela é um palito. De miséria, de restos de olhar batido, estragado e violado.
Pelo ápice de vista nocturna, percebi que era um fósforo de caixa, daquelas de vinte, quarenta ou sessenta. Ou mesmo cem. Múltiplos de vinte. São os fósforos mais fortes, resistentes à chama do vento, que não apagam com a lágrima caída, que choram a luz do corpo do gesto, do aceso.

Riscar o fósforo na caixa. O fósforo da caixa, riscado na caixa, aceso pela caixa. A caixa, a caixa.
Sim, penso na caixa. Penso nela, na caixa que tem todos os fósforos. Selada, virgem, pura. Sem riscos. E cada risco, cada fósforo aceso, é um momento guardado, um tempo olhado, um acender de vela no vazio dos olhares dos outros, dos outros que se apagam sem vento.

Acende o fósforo, mulher. Não queiras ser vento de tempestade.
Deixa a luz nascer, mulher. A tua luz, mulher. A luz dos meus olhos.


Comments:
É...
bonito e triste.
gosto da palavra mulher, mas só quando é bem escrita. assim. bem escrita.

"não apagam com a lágrima caída"
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?