sexta-feira, janeiro 13, 2006

É



não tenho a certeza de pertencer a este lugar ou
a qualquer outro, como tu, mas nós
nós é diferente
pertencemos aqui como duas lajes de um chão mosaico
de quem apenas levite

e de repente toda a dança é possível no rodopio do
tempo, nas
têmporas do rosto grande das figuras em estátua
perfumadas
nas catedrais.
Visita-me lá, visita-me aqui, reconhece os lugares
que cruzaste
à beira dos caminhos, a caminho de outros lugares
quaisquer.
E tira fotos para os escaparates, dos pedestais, dos
estendais, das escapatórias das linhas de fuga das
obras de arquitectura dos arrozais
no mar mora a chuva que não chegou a chover
como na terra o fogo que não ardeu,
há um trigueiro em chão sagrado da vindima
sem templo sem pai nem mãe nem voz
e ainda assim é cantor e trigueiro e filho e sacerdote
a meio da chuva que não choveu, do incêndio
que nada consumiu

há viagens por dentro e por fora, de lado a lado dos
orientes da tua curva
o perfil talhado dos deuses desde a tua boca
ao fim do mundo conhecido.
Quero-te com prazo de validade
a duração de dois corações descartáveis
a força e o medo do primeiro astronauta
o espanto passageiro de uma criança
a contenção de um diplomata
falando ao País.

E sei-te de cor para a próxima vez que um de nós
tenha de ir embora
antes de vir a luz

in "Heartbreak Hotel", Alexandre Borges

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