domingo, dezembro 25, 2005

Miragem de Chuva



Pelos vistos, hoje deve chover. Chover ao longe, bem perto da janela do meu ouvido, pois já ouço o trovão negro das nuvens.
- Como é que sabes que gostas de uma mulher?
- Como é que eu sei? Que raio de pergunta! Que é que queres que eu te diga? Porquê, tu sabes?
- Eu não estou a falar de mim. Tu é que estás a falar de ti! Por isso, eu pergunto outra vez: Como é que sabes que gostas de uma mulher?
- Sei lá eu! Sabes e pronto! Não é coisa programada, agendada por relógio de pêndulo de cabaça, do estilo "Pum! Pronto, é agora!". Sabes!
- Certo. Então se sabes, é porque gostas dela.
- Dela? De quem? Qual mulher?
- Bem, já vi que és um desperdício. Tanta pergunta e tão pouca certeza. Certeza de pureza.
O trovão, o grito de conquista, desapareceu do meu ouvido. Morreu miragem, no deserto de nuvens dos meus olhos de ilusão.

Comments:
Na caverna do platão havia muitas discussões sobre se o cintilar das chamas na parede seria o dia. Quando alguém ousou virar-se de costas para a parede da caverna e viu o fogo quase que cegou com a evidência. Então disse: é o dia. E começaram as discussões sobre se o brilho do fogo seria o dia.

Um dia alguém ousou sair da caverna, provavelmente era o mesmo que tinha ousado virar-se para o fogo. Era um meio-dia de verão e o sol brilhava forte.

À medida que se aproximava da saída da caverna sentiu o coração a bater mais depressa. Quando chegou à saída ficou muito tempo imóvel, cego pela luz, os olhos cobertos de lágrimas de felicidade por ter descoberto o dia.
 
E quando voltou à caverna todos diziam que era louco. Ninguém acreditou na luz e na cor. Preferiram acreditar nas sombras.
 
A discussão da alegoria da caverna, da caverna onde eu estou. A alegria da loucura. A alegria da descoberta.
 
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