quarta-feira, dezembro 28, 2005
Garatujos de Conversa
Dois loucos conversam na oficina enquanto as cores dormem sem ressono. O Ziggy está lá fora a dar o seu passeio nocturno, a Branquinha deve estar a ser cortejada pelo gato vadio e o Billy sossega no sofá a lavar algumas ramelas esquecidas tostadas pelo sol. Mas está atento, desperto, com orelhas de bico pelicano a vibrar com as nossas vozes.
E a conversa cai no desafio da história das coisas, da origem da pintura e da escultura. Mais propriamente a arte em si mesma. E a pergunta é rematada com olhar inspirador.
- Sabes qual é a origem da pintura?
Pergunta directa. O primeiro impulso foi pensar em datas passadas, marcos históricos. Datas. Vamos lá ouvir.
- Não. Mas calculo que tenha sido nas cavernas, nos tempos “íticos”, como o Neolítico e outros tempos irmãos.
Esboço do primeiro sorriso.
- Tudo começa com a filha de um antigo ceramista, algures em Itália. A filha estava enamorada e o seu amante ia partir, ia para longe. E a filha, para nunca se esquecer do rosto dele, aponta a luz de uma lanterna para o perfil do amante. O que é que acontece? A luz projecta a sombra dele para uma parede branca. E a filha faz um esboço delicado da linha da sombra, ficando o amante decalcado na parede. O ceramista vê o esboço na parede e pega em dedadas de barro e preenche todo o esboço, toda a linha de sombra em barro. Cria um relevo do perfil do amante.
- E é assim que nasce a pintura e a escultura...
- Sim, como forma de expressão artística. Como arte.
Nem deixei respirar mais. A resposta estava nos meus olhos.
- Tudo por causa do amor...tudo por causa do amor.
- Sim, tudo por causa do amor...
E a história acabou com dois sorrisos trocados, dois sorrisos esboçados no silêncio da oficina.
O amor é a energia que cria, dá vontade de viver, sentir, respirar, procurar.
A arte sem amor não é arte. Um artista tem de estar sempre apaixonado. SEMPRE...
Quixote, tu também és um artista!
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