domingo, dezembro 04, 2005
Amar o Mar
- Ouves o vento? O vento que vem do mar, que entra no teu mar.
Deixa-me estar aqui, neste sopé, neste muro da arriba molhada de cinzas de espuma.
Como é bom estar aqui. Ser pássaro de pata dobrada, ser miosótis da neblina, ser uma pedra lascada.
- Ouves o vento? O vento que chama, que grita, que salpica o mar no teu mar.
Desço as escadas. Picos verdes de esponja quebram o meu andar, o meu olhar nas ondas do mar. Nas janelas nuas, nas portas vazias, nas paredes saqueadas, nos alpendres filhos do nascer do mar. Do mar que já passou, que morreu nas rochas chão de amor.
- Ouves o vento? O vento da noite no farol, que leva a luz do mar no teu mar.
Beijos de luz no horizonte. Sinto o azul finíssimo a passar-me pelas garras dos dedos que apertam as veias, que apertam o meu sangue. Não vás. Não agora. Não com o meu sorriso brando, com o meu olhar de bando.
Deixa-me estar aqui. Deixa-me amar o mar.