terça-feira, novembro 22, 2005

Mulher de Branco

Aquela mulher é sinistra, penso eu. Contraria todas as regras do meu sinistro. Sim, do meu sinistro. Ela devia ser negra, pálida de cor alguma, opaca nos olhos e jeito de olhar.

Mas ela é branca. Toda branca. Uma assombração branca. Nos degraus da escada, senta-se a meio do último degrau. A observar, a mirar todos os que sobem e passam ao lado dela. Ela a mim não me engana. Finge incomodar-se com a estranheza.

Ela deve ser louca, diz um anafado de passo largo de sobrolho de ouvido ao amigo. Louca!!! Fiquei nervoso, de punho fechado.

Mas quem é Voçê? Voçê sabe o que é a loucura? Sabe? Porque é que lhe chama louca? Por acaso é o carrasco chamado juízo, não? Baseado na sua intuição policial desconfiada, no seu instinto animal sábio de almas...

Respiro fundo. Abro os olhos e o anafado homem já tinha desaparecido na escuridão.

Mas a mulher de branco continuava na sua busca de olhar, na sua busca de vida. Concentrada num olhar. No olhar de toda a sua vida.


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