segunda-feira, novembro 21, 2005

Ampulheta

 

Brincar com o tempo. Às voltas como um berlinde, Thomer Galte visitava as ruas, de bloco em bloco, de número em número, de letra em letra. Era uma corrida contra o tempo que descia preso ao seu cinto de cabedal felpudo.

Tinha subido um grau na escala de ampulhetas. Ampulheta tamanho seis, grão de areia tamanho dois. Tinha menos tempo. E hoje tinha uma entrega especial de tempo, na rua da letra U.

Pelo espelho retrovisor, já conseguia contar os grãos que faltavam encher a duna miniatura. O que era terrível. O tempo não estava com tempo para brincadeiras.

Thomer Galte acelera o passo e vê ao fundo a velha caixa de correio. Mete a mão na sacola e tira a última carta. Quando olha para o tempo, o tempo está quase entrincheirado. E não se apercebe do vento oeste, o vento inimigo que persegue os grãos das ampulhetas. O vento que leva o tempo.

Thomer Galte estava petrificado. O seu tempo acabou. E perdeu o tempo da carta.

 


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