terça-feira, agosto 30, 2005

Estação Nocturna

A estação que vive na hora nocturna é sinistra. Sem vozes, sem diálogos, sem olhares, sem barulhos de movimento, sem passos moribundos. Corpos sentados, alguns deitados, outros dormitando sem ressono e outros brincando com a inconsciência dos músculos cansados. Em vez da mente, os músculos sonham.

Cabeças que esquecem a obediência do pescoço e pendem para o abismo. O abismo é como um íman desconhecido. Não se vê nem se conhece, não é apresentado nem domesticado. É sabido por existir algures na távola redonda da penumbra do centro das coisas. É aí que permanece escondido, que se alimenta, que se organiza, que fala em modos de verbo obreiro amaldiçoado. Nunca dorme, só descansa com as tempestades do Norte.

Hoje são duas. Ontem foram quarenta almas que pendiam para o seu ventre. Fiquei assustado, mas ao mesmo tempo ansioso, por não conhecer esse mistério. Sento-me a ver o passeio do iô-iô da criança desperta ao meu lado à espera da minha vez.

 


Comments:
Através de um ascendente vazio nocturno, deixando a carne e a mente satisfeita, a alma do Homem foi para distante.
 
liaisons em:
http://www.rafael-dionisio.blogspot.com

Mais admiradores!
 
Gosto mesmo desta escrita cheia de imagens, é comunicativa e expressiva. Há mais, de onde esta veio?
 
Uma interpretação bem diferente daquela que senti, L.Gato. Corrijo, uma perspectiva diferente daquela que vi e que me deixei arrastar.
 
Estou a sorrir, Purykura.
 
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